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Da compaixão - Chove e Sol em Paris 

Paris. Fátima visita Sophie. Ambas vivem um acontecimento trágico: a filha de Sophie foi vítima do atentado terrorista cometido pelo filho de Fátima. Ambos morreram.

Texto que nos transporta para a nossa inquietação maior, a finitude, a perda de uma filha. Assassinato levado a cabo por um jovem, o denominado lobo solitário, que professa "um ideal tal qual o conceito de martírio" e que leva às últimas consequências: matar-se matando os outros. A culpa. E o perdão. A revolta, a dor e a hostilidade de Sophie, acossada entre a raiva e o ódio que tem momentos de inquietação e transtorno psicótico no seu encontro com Fátima. O sentimento de culpa de Fátima: muitas vezes as mães, ainda as mães, carregam pensamentos como: "se eu me tivesse comportado daquela forma, aquilo não tinha acontecido". Todos os pensamentos de Fátima remetem para o seu passado: porque não me apercebi da mudança de comportamento do meu filho?!

Este é um texto revelador dos nossos dias.

Construiu-se este espectáculo com “leveza”, tornando-o por vezes alegremente irónico nos seus limites possíveis, mas sem nunca perder a humanidade e compaixão que o constitui.

A cenografia de Mimi Tavares, cuja pintura sugeriu precisamente o imaginado, terá o efeito de "distanciamento", este, visual. Espetáculo cujo desenvolvimento da acção, exposição, crise e desfecho traga ao espectador uma perceção e emoção significativa. Gravações em video, onde surgem grandes planos de fragmentos da representação, projectando o interior que não fica dito e as decisões que antecedem as emoções em cena, realização de Inês Lapa Lopes. Para Appia "os espectáculos ou são realidades transformadas em ilusões ou são ilusões transformadas em realidades (...)". A equipa é no feminino, numa admiração mútua vinda de trabalhos anteriores e Abel Neves, o dramaturgo não menos querido e já por nós encenado, Olhando o Céu Estou em Todos os Séculos, em 2012 nas Aguncheiras.

Com o fim da cultura religiosa aprendemos a pensar que os erros não são nossos, que são dos grupos, das sociedades ou das estruturas. O inferno são os outros dizemos, tão pobres somos que nem sequer temos culpa. No entanto, a culpa é um instrumento de controlo das religiões. Instrumentalizando a religião muçulmana, os que barbaramente realizam ataques bombistas na UE, são europeus ou nascidos na UE convertidos ao islamismo. Pessoas altamente fragilizadas psicologicamente, pessoas humilhadas pelo racismo, pessoas desterritorializadas ou loucos, perversos e mercenários? Uma mescla de todos eles.

Fotografias do espetáculo

Ficha Técnica

Texto: Abel Neves

 

Encenação: São José Lapa

 

Intérpretes: Rita Ribeiro e Paula Guedes

 

Espaço Cénico: Mimi Tavares

 

Vídeo: Inês Lapa Lopes

Styling e Guarda-Roupa: São José Lapa e Rosinha Ramalho

Desenho de Luz: João Marques

 

Fotografias: Vitorino Coragem

Músicas: Tema "Gente e Pedra" - Keso, 2016 Biruta Records; 

Tema "Le Pont Mirabeau” - Léo Ferré

Duração: 1h30

 

Produção: Espaço das Aguncheiras

 

Design: Mill

Apoio: Câmara Municipal de Lisboa

Parceiro Institucional: República Portuguesa - Ministério da Cultura

Acolhimento: Teatro da Garagem

Divulgação rádio: RDP1

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